Razão e Emoção: A batalha continua

Existem várias coisas que me incomodam. Mas entre elas as sentimentais se destacam. Em primeiro lugar a indecisão do homem. E, em segundo lugar, a batalha que a razão trava com a emoção durante esses momentos.

É clichê, mas eu preciso tocar nessa mesma tecla. E tocarei enquanto isso soar como um incômodo na minha vida. Nós, homens e mulheres, passamos a vida a procurar o par perfeito.

Chega um dia em que encontramos. E aquela pessoa por algum motivo não é o que pensávamos que ela fosse. É preciso terminar afinal ela não nos merece.

Nossa busca continua. E dessa vez é pra valer, a tampa pra panela foi encontrada no fundo do armário. Sonhamos, fazemos planos, imaginamos coisas, falamos do futuro como se ele estivesse nas nossas mãos. E de repente, de uma hora pra outra, tudo é jogado no ralo. E o que dizer?

“Eu não te mereço”

Peraí. Reclamamos a inversão de valores que faz do mundo um lugar cheio de “Tchutchucos” e “piriguétes” que certamente não nos merecem e, quando encontramos um alguém legal o que fazemos? Julgamos que não merecemos essa pessoa e nos auto punimos. Em busca de punição para nós, punimos um alguém que não merece. Justo? Não é. Mas nem troco no 1,99 recebemos atualmente, quem somos nós pra falar em justiça.

Aí entra a tal batalha da razão e da emoção. A primeira sopra no teu ouvido “se ele(a) ta dizendo que não te merece é porque não merece. Sacode a poeira criatura”. A segunda chora reclama e tenta entender. Só que simplesmente não há o que entender. E assim eterna batalha da razão e da emoção continua: entenda sempre vou te querer, só que por vezes isso machuca.

A arte, e seu ônus.

Já dizia o poeta que namorar é uma arte. Arriscaria-me a dizer que é uma das mais loucas artes que eu conheço, mais até que determinadas obras apresentadas na Bienal.

É uma arte chegar do trabalho em sexta feira e pensar o que fazer pro namorado jantar, se arrumar toda ao invés de colocar pijama e pantufas. É uma GRANDE arte driblar a TPM, o ciúmes, a engraçadinha do orkut, o amigo solteiro, a voz estranha, o telefone ocupado ou desligado.

Mas sabe por que o namoro pode ser considerado uma arte? Porque apesar de tudo é bonito. É bonito ser abraçado com carinho ao invés de ser agarrada, beijar por gostar e não pra abrir o contador, andar de mãos dadas, fazer nada... Namorar é uma das artes mais bonitas que eu conheço.

Seguindo a linha de raciocínio do poeta, se namorar é arte, acabar faz parte. A história começa com a gente pensando duas coisas: ou que o namoro não vai render muito tempo, ou que finalmente encontrou o famoso personagem de contos de fadas. Geralmente quando passamos da primeira fase e começamos a pensar a segunda, o conto acaba.

Sei que estou sendo levemente extremista e que isso é pecado mortal para quem escreve. Mas comigo o conto sempre acaba no melhor da história.

E daí, começo a me sentir mal por discordar da bonitona da Fergie. Afinal de contas eu sou uma “Big Girl” e mesmo assim “I cry”. E então começo a me odiar porque chorar me traz dor de cabeça.

O único ser por quem eu sinto ódio é por mim mesma. Talvez seja pelo fato que eu não consiga odiar de verdade ninguém, e acabo descontando por aqui mesmo. Mais um motivo para odiar-se, afinal ex-namorado merece ódio, e eu não consigo sentir ou tão pouco brigar.

Meu terceiro motivo de ódio é por não ser adepta a nenhum tipo de entorpecente. Afinal eles seriam ótimos para a minha dor de cabeça E para me fazer dormir. Se eu não tivesse com cefaléia estaria escrevendo algo decente ao invés “disso”. Ou se sentisse sono não escreveria.

E por fim eu odeio mais que tudo o rímel que me juraram ser à prova d’água. Pior que chorar é olhar-se no espelho após o ato.

Ta, não quero terminar de um jeito mal-humorado então farei um salve ao Moura Brasil que me ajudou a disfarçar os olhos vermelhos quando jurei pra mim mesma que era forte.


*Obrigada Deus por não fazer do homem um alguém interessado na leitura de Blog’s pessoais. Seria um saco ter que voltar a escrever diário. (e pensar em um bom lugar para escondê-lo).

Planeta de renovação

A maioria do brasileiro gosta de pensar que o ano começa depois do carnaval. Eu como uma jovem gaúcha gosto de dizer que ele começa depois de um evento chamado Planeta Atlântida.
Lembro da primeira vez que eu pisei no evento, em 2005, minha emoção perante tamanho palco, foram os dois dias mais emocionantes até então, como se eu esperasse por aquilo por todos os meus 15 anos.

Hoje já pensei que a fase teria passado. Esse ano acabei decidindo ir aos 45 do segundo tempo. Graças a Deus consegui galera, ingresso, condução e até capa de chuva. Não estava muito animada, mas aquela sensação de que somente eu estava em casa me incomodava.

Posso dizer que minha fase passou. Consegui atingir no evento uma coisa que poucos se detém em fazer: lavar a alma. Cantei até mesmo quando não sabia a letra. Pulei até mesmo depois de não sentir mais os meus pés. Tomei banho de chuva como se fosse de um chuveiro dos mais potentes. Gritei até minha voz acabar.

Ao contrário da maioria, não voltei acabada. Pelo contrário, liberei minhas energias presas, troquei as vibrações (coisa que nem o reveillon nem o carnaval me permitiram fazer), e assim voltei pra casa nova.

O mais engraçado foi a resposta rápida que dei ao primeiro que me perguntou “e aí, ficou com alguém?”. Respondi que havia ficado sim. E fiquei. Fiquei comigo mesma, curti na melhor companhia que pode existir todos os shows, cantei pra mim todas as músicas e assim me renovei.

Às vezes precisamos extravasar de um jeito sadio as energias que possuímos. Tudo é um ciclo, e o ano com certeza só começa de verdade depois de uma longa sessão de amor. Amor próprio.

Começando com o pé direito

Então, fazia algum tempo em que eu re-pensava a idéia de ter um canto meu para expor minhas opiniões.
Já tive pensamentos sobre tudo. por isso fiz isso aqui, não sei se alguém vai ler ou se vai durar. Mas é o meu espaço e isso já me basta.

Estava lendo o jornal O Sul no domingo e me deparei com trechos de um discurso do Senador Cristovam (aquele que seria o presidente da educação), e uma frase me chamou atenção "No mesmo dia em que a gente descobre um poço de petróleo, a gente joga fora a inteligência do Brasil"

Depois disso, creio que não precisa mais nada. Só que eu não me dei por vencida, fui atras do texto na íntegra, e após ler não tive dúvidas que essa é a melhor forma de se começar com o pé direito:

Escolabrás.

Sr. Presidente,
Srªs e Srs. Senadores,

Eu vim porque no dia de hoje o Brasil está comemorando, de acordo com todos os jornais brasileiros, Senador Geraldo Mesquita, a descoberta de uma reserva de petróleo que vai dobrar as reservas atuais de petróleo do Brasil. Ou seja, é um fato, sem dúvida, alvissareiro, mas que merece algumas reflexões.

Em primeiro lugar, isso não seria possível sem um sistemático trabalho, ao longo de cinqüenta anos, de todos os partidos, de todos os governos, em torno de uma entidade chamada Petrobras. Ou seja, o Brasil se une pelo petróleo, o Brasil se une pela Copa do Mundo.

Faltam sete anos, e todos os Governadores estão brigando para apoiar o Presidente Lula. Todos. E dizem que, no Brasil, um pacto é impossível; que, no Brasil, não há possibilidade de unir as Lideranças em torno de objetivos.

É claro que há! Em dois dias inteiros juntos, o Presidente e Governadores da Oposição a ele indo a Genebra e vindo de lá. Se se considerar o tempo de vôo, só no avião ficaram quase um dia inteiro trancados, conversando, conversando, conversando sobre a Copa do Mundo. E, há cinqüenta anos, conversamos e agimos apoiando a Petrobras. Há um pacto nacional para tornar o Brasil auto-suficiente. E conseguimos. Mais do que isso, segundo o Presidente e a Ministra Dilma, a partir de agora, seremos parte da Opep. Isso é alvissareiro.

Agora, o que ninguém lembra, Sr. Presidente, é que, no mesmo dia em que se descobre uma reserva imensa de petróleo, oito bilhões de barris, nesse mesmo dia, no Brasil, estamos jogando fora uma reserva maior ainda de energia. Nesse mesmo dia, talvez 80% das crianças brasileiras ou não foram à aula ou foram, mas saíram logo depois da merenda; ou foram, mas ficaram brincando ao invés de entrarem na sala de aula; ou foram e entraram na sala de aula, mas não prestaram atenção a nada; ou foram e prestaram atenção, mas o professor, desmotivado por falta de salário, não conseguiu dar a aula ou não teve interesse; ou foram, os professores deram as aulas, mas não dispunham de equipamentos modernos, como computador, televisão.

Ou seja, no mesmo dia em que a gente descobre ou comunica a descoberta de um poço de petróleo, a gente joga fora uma energia muito mais sublime e permanente que é a inteligência do Brasil, porque esse dia perdido vai se repetir hoje, amanhã e amanhã e amanhã, como se repete há cinco séculos em que estamos jogando fora.

O mais incrível é que essa energia que a gente joga fora é a única permanente. Mesmo com oito bilhões a mais de poços de petróleo, daqui a 20, 30, 50 anos, esse petróleo terá se esgotado. Petróleo, cada vez que você tira um barril, não volta; ao contrário, polui lá em cima. Petróleo é uma reserva esgotável de energia, mas o cérebro não.

Morre o cientista, mas ele passa as suas descobertas; morre o grande escritor, mas ele deixou os seus livros; morre o professor, mas ele ensinou às crianças. A inteligência de um povo é um bem permanentemente renovável. Mais do que renovável, ele se multiplica. Mas a gente insiste em gastar tudo o que tem para pesquisar petróleo, competentemente, do ponto de vista técnico, mas imoralmente, do ponto de vista ético, ao deixar de lado a mais sábia das energias, que é a inteligência.

É como o discurso, Senador Mão Santa, que o senhor falou que eu fiz na semana passada ou nesta semana mesmo, segunda-feira, em que eu disse: Mas, para o Brasil está bom demais, porque a gente escolheu um imperador em vez de um presidente; mas, para o Brasil já estava bom demais. A gente fez a Lei do Ventre Livre em vez da abolição, mas para o Brasil já estava bom demais. Nós somos um gigante deitado em berço esplêndido, mas, para o Brasil, estar deitado num berço esplêndido é bom demais. E assim a gente vai seguindo a história deste País.

Descobrir um novo poço de petróleo, imenso, enorme, que nos faz um país rico em energia fóssil é bom demais, mesmo que a gente esteja jogando fora a outra energia.
Senador Mão Santa, a produção hoje é de 1,5 milhão por dia; vai subir para 3 milhões quando isso estiver funcionando, daqui a alguns anos. Se multiplicar pelos dias do ano, será quase bilhão de barris por ano.

Multiplique por US$100.00, multiplique por dois para pôr em reais e bastaria 1% disso para a gente fazer a revolução de que a gente precisa na educação. Ninguém fala em royalties sobre o petróleo para fazer a pesquisa, a exploração e o desenvolvimento da energia inteligência, como o Presidente Chávez está fazendo. Digam o que quiserem dele. Muita coisa é verdade sobre o autoritarismo que ele tenta exercer, mas lá o petróleo venezuelano está servindo em parte para eles desenvolverem a inteligência da Venezuela. Os árabes estão desenvolvendo, apesar de um país com pouca população. Nós não estamos.

Mas eu quero falar um pouco mais dessa reflexão sobre essa contradição terrível: um país que consegue tirar petróleo... As pessoas não sabem a dificuldade. É no fundo do mar, dois quilômetros abaixo do solo do mar. É uma tecnologia que os outros países não têm. A gente tem, usa e tira o proveito disso. E, ao mesmo tempo, joga fora a outra energia tão mais simples.

Mas eu não quero falar para o Senador, e sim para quem está me escutando, quem está me ouvindo, para lembrar que essa descoberta é fantástica para o Brasil, vai trazer alguns benefícios para você, em casa, mas não vai trazer tanto quanto se pensa, porque o Brasil é algo fundamental, mas também cada família é algo fundamental. Graças a essa reserva, o Brasil não estará mais vulnerável no dia em que uma guerra mundial impedir de recebermos petróleo do exterior. Aqui vamos ter. E isso é muito bom para você, para cada um de nós.
Mas, pelo que li nos jornais, até agora, só quem venceu e ganhou com essa pesquisa, do ponto de vista individual, foram os acionistas da Petrobras, que tiveram um aumento de 14%. Nem um real desses 14% vai para você, em casa, vai para a nação brasileira. A gente fala tanto contra a CPMF, e com razão, e esquece que, de anteontem para ontem, um grupo de ricos brasileiros acionistas da Petrobras tiveram um aumento de 14% na sua fortuna, pelo menos na parte que corresponde às ações. O jornal de hoje – não vou citar o nome – fala de uma pessoa que ganhou R$30 milhões.

Você que está me ouvindo tem de entender que o verdadeiro poço de petróleo que é seu está dormindo no quarto ao lado: é a sua criança. Ela está comendo com você à mesa, ao seu lado. É o seu filho, a sua filha. Você tem de entender que o verdadeiro poço de petróleo de cada família são os seus filhos, as suas crianças. Aquele outro poço de petróleo é do Brasil e é bom que a gente o tenha como brasileiros. É fundamental, importante e necessário para a soberania; ajudará cada um de nós no dia em que houver uma guerra no Oriente Médio e não pudermos receber o petróleo aqui. Afora isso, a ajuda é para o País e não para o indivíduo.

O verdadeiro benefício que se pode tirar é você próprio fazer o que a Petrobras fez no fundo do mar. Mas você não precisa fazer no fundo do mar nem mesmo gastando dinheiro. Você pode fazer se mobilizando, primeiramente em casa, para exigir do seu filho que ele estude. Educação não é uma questão apenas de escola e dos professores. É também dos pais. Não jogue a culpa nos professores, na escola. Você tem que se mobilizar dentro de casa para que o seu filho estude. Ele é o seu poço de petróleo; você é a Petrobrás da sua família.

Segundo, tem que se mobilizar na escola, tem que ir lá, porque os professores estão desmotivados. Você tem que ir lá, reclamar dos professores e apoiar os professores naquilo em que eles precisam, para conseguir recursos melhores, para aumentar o salário deles. Sem a mobilização dos pais os professores não conseguem ou passam cem dias de greve para terem 10% de aumento. E 10% não resolvem o problema dos professores, nem 30% nem 50% nem 100%. Tem que ser um aumento substancial. Você tem que apoiar os professores, mas também cobrar deles. E não só salário. Tem que cobrar que eles fiquem dando aula, que seus filhos aprendam e que tenham ensinamentos bons.

Você é a Petrobrás do seu filho, você é a Petrobrás do seu futuro, da sua família! E o seu poço de petróleo é o cérebro dos seus filhos. Alguns de vocês que ainda estão na idade de estudar também têm como desenvolver o potencial que têm dentro de vocês, como o Brasil tem, em suas entranhas, debaixo do subsolo, na bacia de Santos. A gente consegue chegar lá, montar uma plataforma, furar quilômetros de terra e de sal, chupar o petróleo, transformar em gasolina. É uma riqueza complexa, complicada, cara, que só foi possível porque alguns pais, anos atrás, insuflaram os seus filhos a estudar, porque os seus filhos estudaram e viraram os engenheiros da Petrobras, viraram os técnicos de nível médio da Petrobras. Aquele petróleo lá em baixo, que tem duzentos milhões de anos, ficaria lá mais um bilhão de anos se não fosse a inteligência humana.

O verdadeiro instrumento de produção energética é a inteligência. Primeiro, porque, se não fosse a inteligência da engenharia brasileira, o petróleo continuaria lá. Segundo, porque se tivesse inteligência para tirar o petróleo, mas não tivesse para refinar petróleo, de nada adiantaria, porque o petróleo é uma lama, que só vira algo positivo quando se transforma em diesel, quando se transforma em gasolina.

Não só isso! É que vai acabar! E, quando acabar, só haverá um jeito: é ter pessoas pensando em como fazer energia do ar, da água, do urânio, fontes alternativas, da cana, como a gente faz o etanol.

Por isso, eu queria que você que hoje lê contente, como brasileiro, que ganhamos o direito de sediar a Copa do Mundo, sinta a mesma alegria ao descobrir que você tem dentro de sua casa um poço de petróleo, talvez ainda inexplorado, que depende de você como orientador, como cobrador, como exigente de que seu filho estude e exigente de que a escola funcione bem. Mas não esqueça: a escola não vai funcionar bem se não houver governo que cuide tão bem da escola quanto os governos brasileiros cuidaram da Petrobras ao longo de cinqüenta anos.

Você tem que brigar para que os governos brasileiros façam uma espécie de “Escolabras”, faça das nossas 168 mil escolas uma entidade com a eficiência da Petrobras, só que, em vez de tirar petróleo, refinar petróleo, produzir inteligência, desenvolver inteligência. Depende de você. Você tem que entender que você tem que fazer isso para o bem de sua família e pelo bem de seu País, do nosso Brasil. O seu filho, bem formado, tem futuro. E o seu filho, bem formado, vai trazer o futuro para o Brasil no dia em que essas reservas de Santos acabarem. Porque elas vão acabar. Ai não se sabe se são vinte, trinta, quarenta anos. Mas não é muito mais do que isso.

Então, vamos tirar a lição das coisas boas. Vamos tirar lição do fato de que o Brasil, de repente, entre talvez até, como disse a Ministra Dilma, na Opep, como exportador de petróleo. Por que a gente não consegue ser exportador de patentes, de invenções? Por que a gente consegue exportar petróleo e não consegue ter um Prêmio Nobel? Por que a gente consegue ter petróleo e as famílias continuam pobres? Porque a gente não deu educação igual para todos.

E a Petrobras descobrindo todo esse petróleo vai ser bom para o Brasil, mas não vai reduzir em nada a pobreza brasileira. Não tem nada a ver: mais petróleo e menos riqueza social. Nada a ver. A não ser que a gente case esses dois através da escola. Senão, a gente vai ter mais petróleo para os ricos consumirem nos seus carros. A gente vai ter um país mais soberano ou menos vulnerável quando houver uma guerra internacional que proíba os grandes petroleiros chegarem aqui aos nossos portos. Mas, no seu porto, na sua casa, tudo vai continuar na mesma situação. Os acionistas vão ganhar dinheiro. O Brasil, como nação, vai ser menos vulnerável. Isso é bom, não é ruim.

Mas você não vai ganhar direto, porque você não quer, porque você não está alerta, você não se mobiliza, porque você não participa, porque você aceita, porque você se acomoda com o fato de que o Brasil é campeão na Copa do Mundo, com o fato de que o Brasil descobre petróleo a mais, com o fato de que o Brasil é um grande produtor de automóvel, porque o Brasil já é a 8ª ou 9ª potência econômica. Mas se acomoda porque o Brasil está lá depois do 70º lugar em condições sociais. E comemoramos como um grande feito que, hoje, 40 milhões de pessoas vivem numa transferência minúscula de renda. Deveríamos estar comemorando o fato de que isso não é necessário. Mas comemoramos isso como uma grande coisa. Estamos acomodados.

Vamos fazer como a Petrobras, que não está acomodada. Ela recebe o apoio de todos os Governos, tem a inteligência nacional e paga bem. Comparemos o salário dos funcionários da Petrobras com o dos funcionários das escolas e veremos porque somos auto-suficientes em petróleo e ridiculamente dependentes e atrasados em educação. Se o salário dos professores fosse tão bom quanto o dos funcionários da Petrobras, Senador Mão Santa, se o dinheiro que se gasta numa plataforma fosse gasto nas escolas, se o pacto nacional que mantém a Petrobras há 50 anos trabalhando fosse usado para desenvolver um programa educacional, se o Brasil pensasse nas crianças com o mesmo carinho que tem para com os barris de petróleo, seria outra a situação brasileira. Mas não fazemos isso. Comemoramos porque, para o Brasil, como disse o Senador Mão Santa, repetindo, já está bom demais: tem petróleo. Para que ter criança estudando?

Esta é a idéia que fica quando lemos os jornais de hoje: um fato a comemorar. Não vamos diminuir a importância da descoberta desse poço de petróleo que está na bacia de Santos – se isso se confirmar, porque alguns têm dúvida, pelo momento em que apareceu essa notícia, ou seja, quando se têm as notícias da crise energética e do apagão energético. Se confirmada, é para comemorar-se, mas não para dizer que para o Brasil está bom demais. Não, não está bom demais! E a culpa é de cada um de nós. Em casa, junto aos nossos pocinhos de petróleo, que são os nossos meninos e meninas – esse pocinho de petróleo que é do tamanho apenas de um cérebro, que é cinzento, e não preto como é, e não negro como é o petróleo –, vamos trabalhar com a mesma força, com o mesmo empenho para desenvolver a verdadeira energia brasileira que é a energia da inteligência.

Para isso, precisa-se de mobilização. Não acredito que os governantes o façam. Passou o tempo. E a própria Petrobras só começou porque o povo brasileiro foi à rua, porque, senão, ela não teria acontecido, Senador Geraldo Mesquita, V. Exª sabe muito bem disso. A Petrobras foi fruto de uma campanha: “O Petróleo é nosso”. Morreu gente nessa campanha. A gente precisa fazer uma campanha: “Educação já!”, como se fez o “Petróleo é nosso”, como se fez “Diretas já”, como se fez “Anistia”. Cada campanha brasileira só deu resultado quando o povo foi à rua. Não vai adiantar discurso de um, dois, três, dez Senadores aqui, enquanto não houver uma mobilização nacional para que a gente faça com o cérebro de nossas crianças aquilo que a gente faz com os poços de petróleo: cuidar, ir atrás, identificar onde estão, colocar o sistema de extrair saber, como a gente tem o sistema de extrair petróleo, refinar esse saber bruto que está na cabeça de cada um como refinamos petróleo para transformar em gasolina. Isso é tão possível, gente!

Bastava uma CPMF, 0,38% sobre cada barril de petróleo, para termos o dinheiro para fazer a revolução educacional. Mas fazemos o contrário. Esses barris de petróleo não trarão qualquer benefício para a educação brasileira e, ao mesmo tempo, estamos tirando dinheiro previsto para a educação pela Lei Calmon – que destinava 18% da receita da União para a educação. Com essa tal de DRU misturada à CPMF que votaremos, em vez de 18%, apenas 15% irão para a educação. Tiramos 20% dos 18%, ou seja, neste País, enquanto descobrimos, exploramos e comemoramos a descoberta de novos poços de petróleo, destruímos, abortamos, impedimos o desenvolvimento do maior de todos os poços energéticos que um País pode ter, que é a inteligência do seu povo, que começa no desenvolvimento da inteligência de suas crianças.

Vamos comemorar, mas sabemos que é pouco, é muito pouco se considerarmos o longo prazo e o bem-estar não apenas da Nação brasileira como entidade, mas também de cada família, cada pessoa, cada criança de hoje que amanhã será um adulto.

Eu ontem estava assistindo, já muito tarde da noite, o noticiário de uma dessas cadeias internacionais e que falava de um homem colombiano, cujo filho foi seqüestrado, que decidiu caminhar pela Colômbia inteira, inclusive carregando umas correntes nele amarradas, para defender a paz na Colômbia. E dei um susto na minha esposa quando lhe disse: “será que, em vez de fazer discurso engravatado, naquele frio do ar condicionado do Senado, não seria melhor eu ir para o Chuí e começar uma caminhada até o Oiapoque falando de educação, falando da revolução de que o Brasil precisa?”

Senador, temos conhecimento de todos esses veículos que o Senado usa – felizmente e graças a ele, o que falamos aqui chega a algum lugar –, mas infelizmente e sinceramente, a imprensa hoje só se interessa pela CPMF, como foi com o “mensalão” antes. E só vai se interessar, daqui a alguns meses, pelo próximo escândalo, e não haverá um único jornalista para querer falar disso.
Por isso, ontem eu me perguntei, apesar de tudo isso, Senador Mão Santa, será que o melhor lugar para ajudarmos a fazer a revolução é aqui, nesta tribuna, mesmo com todos esses veículos, ou fazermos uma grande caminhada neste País? O susto que dei na minha esposa quando falei isso, é claro, não durou muito, porque eu acho que, na idade em que estou, e do tamanho que é o Brasil, talvez eu exagerasse em meu quixotismo ao fazer isso. Então, por conta da idade e do tamanho do Brasil, vou continuar aqui, falando essas mesmas coisas, enquanto tiver energia.

Agradeço aos Senadores a gentileza. E, por favor, não foi para os Senadores que eu falei, mas para cada um de vocês que estão em casa. Não se esqueça, você tem um poço de petróleo em casa, um, dois, três, quatro, seus filhos. Agora, você precisa fazer como a Petrobras. Ela transforma uma matéria bruta que é a lama chamada petróleo, escondida no subsolo, em gasolina, em diesel; e vocês precisam transformar essa coisa que vocês não vêem, a massa cinzenta que existe dentro da cabeça de cada um de seus filhos, em inteligência. Para isso, prestem atenção, acompanhem, exijam das crianças que vão à escola, briguem com os professores, apóiem os professores, exijam equipamentos. E os professores não podem fazer isso se não tiverem o apoio de vocês junto às autoridades, junto a cada governante. Vão à Prefeitura, vão à sede do Governo, manifestem-se; façam como as gerações anteriores fizeram para que o petróleo fosse nosso, para que se criasse a Petrobras, lutem para criar uma espécie de “Escolobras” neste País. E não esqueçam que, a cada quatro anos, vocês escolhem aqueles que vão decidir o futuro do Brasil: só com petróleo, que se acaba, ou também com inteligência; só para beneficiar uma grande empresa nacional, ou para beneficiar a família de vocês também. Lembrem-se disso.

Cristovam Buarque - 09/11/2007