Je ne peux pas oublier l'IT

Um copo de vidro cheio de gelo e wisky importado em um bar de luxo. Era isso que escolheu para sua vida. Tinha carro, apartamento, se vestia bem. Aos trinta era o maior advogado do Estado.

As mulheres o consideravam um “tipão”. Podia sair com as mais variadas. Os mais belos protótipos estavam "na sua": Era a ruiva dos olhos mel, a morena do olho verde, a loira dos olhos azuis.

No entanto, jantar sozinho, ainda que em bom restaurante, lhe fazia sentir um vazio. Olhava para o celular – que besteira – pensava, não havia ninguém para ligar perguntando se demoraria a chegar em casa.

Foi então que, entre uma garfada e outra de salmon ao molho de alcaparras gratinadas, lembrou-se dela. Seu pensamento o remeteu para um passado distante onde era apenas um adolescente.

Um jovem que havia ingressado a pouco no curso de direito. Estava sentado de frente para a orla da cidade. Via o sol se pôr e filosofava sobre a beleza do simples enquanto fechava seu palheiro de alecrim.

E era nesse momento que seus olhos eram vendados por mãos doces. Sabia quem era só pelo aroma que aquela pela macia exalava.

“Cris”

“Seu bobo. Assim não vale. Tu sempre acerta.”

“E por isso mereço um premio não?”

Ela sorria. E lhe encarava com uma firmeza que ia de encontro à doçura que possuía. Depois disso, seus lábios eram quase como um imã.

Ele gostava de segurá-la pela cintura. Ver como era pequena, como parecia frágil. E como mais uma vez seu intelecto ia de encontro a aparência. Ali ficavam até anoitecer. Ele, ela e as luzes da cidade.

Planos? Os mais diversos. Brincavam que os filhos se orgulhariam em ter uma mãe professora de francês e um pai advogado...

Até que ele decidiu que ela era sonhadora demais e foi embora. Largou as palavras que eram garantia de um futuro bom pela ambição de uma vida cômoda.

E ali estava: importante, reconhecido, sozinho.
Doeu em seu peito. Queria absurdamente enrolar os cachos dela novamente. Se pudesse voltar atrás, imploraria de joelhos o perdão por sua burrice. Juraria voltar para buscá-la.

Sentia uma necessidade absurda de ouvir, ainda que pela última vez.


“J’taime”



Ao rumar ao carro, alguém sentado próximo a porta lhe fez parar. O mesmo perfume o qual acabara de lembrar. Olhou para trás e viu as costas de uma pequena mulher. Sentiu um arrepio. Quis voltar. Não o fez: Ele escolheu trocar seu destino na metade do caminho. Era tarde para querer reparar sua vida avessa.

Decidiu apenas escrever um bilhete e pedir para o garçom entregar juntamente com uma folha de alecrim:


"Je ne peux pas oublier l'IT"



E partiu.

12 comentários:

Kéh disse...

"Je ne peux pas oublier l'IT"

sem duvida um texto envolvente!!!

A cada linha que termino de ler em teus textos minha admiração cresce - se é que isso é possivel - tu sabe jogar palavra brincando. MENINA tu vai longe, eu sempre te falo isso!

Juliana.... disse...

Ain, que lindoooooo!!!!
Amei, gabi! Bom demais!!!!

Beeeijos, xuxu!!!

Anônimo disse...

1º não deu pra não lembrar da música "as luzes da cidade acesas, clareando o copo sobre a mesa..." (hehehehe)
2º Salmon com alcaparras, parece familiar esse prato, hein?
3º Palheiro de alecrim...que lindo, lembrei da música "canta primavera pá, cá estou carente, manda novamente algum cheirinho de alecrim..." (chico buarque)

Tu é demais guria!Estou tentando inventar mil formas de te elogiar...

Camila disse...

É... infelizmente não podemos voltar no tempo, né?!
Beijo e boa semana!

Rodrigo Dias disse...

Não sei francês, mas troca "advogado" por "jornalista" e vejo o meu futuro.

Ê merda.

Beijo

Camila :) disse...

hahaa bem interessante :)

Boa Noite Cinderela disse...

Lindo o texto e intrigante.
Qdo vier pra Ctba dá um grito, hehe
Beijo.

Rapha Melo disse...

Olá prima!!!

Vc está se puxando, muito bom!!! Gosto do jeito que escreve....Parabéns!!!!....e eu faz tempo que não atualizo o meu blog, mas escrever sempre escrevo.... vou ver se começo a postar de novo....

Bjo

Vinícius Ghise disse...

Muito legal o conto, demais.

Pena que a individualidade desses tempos incline as pessoas a estas escolhas.

Isso acontece todos os dias, pode crer.

Bjão querida

Paulo Victor disse...

q cara covarde esse!
foi embora sem voltar antes.
sem fazer o q tinha vontade..
^^
aprendi.
não vou ser assim.

beijo =]

Vanessa Reis disse...

"Time is something you can't go back..."

E é por isso que qualquer pensamento torna-se acessório desnecessário quando tudo o que você tem que fazer é agir e seguir a intuição.

Daniel Salles disse...

Intrigante...seria esse o destino dos solteiros convictos, lá pelos 45?!?

Gostei do texto e do estilo!