Em xeque [final]


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Marcos sempre tão quieto, sempre tão analítico. E Janaína sempre tão dinâmica e espontânea. Os fatos não mudaram Marcos. Mas mudaram Janaína, fazendo com que ela criasse um véu. E gelasse.

O silêncio precisava ser quebrado embora ela rezasse para todos os santos que isso não acontecesse.

-Tá tudo bem contigo – perguntou Marcos, escondendo sua ansiedade atrás de uma jogada calma com a torre.

A calma. Ah, a calma! Virtude que Marcos esbanjava e Janaína tinha déficit. A hora da verdade havia chego e de nada adiantou tentar evitar. Era difícil explicar aquilo que nem mesmo a ela fazia sentido.

-Ótimo – disse ela de forma ambígua, visto que, havia comido o cavalo – Por que não estaria? – retrucou com seu sistema autodefensivo ligado.

Janaína era falante ao natural. Ironicamente, Marcos sabia o quão difícil seria fazer com que ela falasse dessa vez. Ele conhecia Janaína. Talvez tanto quanto ela própria. Desconhecia, porém, o mais importante: o pavor que ela estava de ter que desenterrar um passado que decidiu esquecer sem razão aparente ou lógica.

-Porque não é isso que dizem os teus olhos.

O olhar. Ah, o olhar! Desde antes de criarem intimidade, Marcos já se rendia àquele olhar. Doce sem ser tolo. Amável sem ser ingênuo. Talvez, do saudosismo cabível naquilo que se viveu somente em pensamento, o elemento que mais fazia falta era o olhar. Como poderia ter mudado tanto?

De repente, entre um peão e uma oportunidade perdida de comer o bispo, uma crise catártica tomou conta de Janaína. E ela desabou.

-Não. Não ta tudo bem.
-Mas..
-Eu acabei de dizer que tava tudo bem, mas não ta.
Marcos colocou Janaína em xeque.
-Desenvolva.
-Não sei explicar. Era pra estar tudo certo no lugar. Era pra estar feliz. E me sinto vazia. Acho que mudei o meu estilo de vida.
-Não é isso que você deve questionar em si agora.
-E o que é então – Janaína perguntou enquanto escondia sua rainha.
-A questão, minha cara – Parou, pensou no jogo, movimentou lentamente uma peça – Não é ter mudado o estilo, mas sim o por que de tal ato.

Janaína não estava só em xeque. Era também choque. Não sabia o que dizer. Não tinha o que dizer, embora houvesse muito a ser dito.

-Foi tudo tão de repente. Não tenho nem como te explicar. De uma hora pra outra, veio outro alguém.

A verdade é que Janaína precisava sentir-se segura. Sua carente alma ainda adolescente aspirava por insanidade. Foi algo acontecido de momento e o momento se prolongou.

-O que mais me intriga não é nem a rapidez do fato. Mas o por que tu não me contou.

Ela precisava pensar. Na verdade, o que ela precisava mesmo era respirar. Mas não podia. Estava em meio a uma partida de xadrez.

-As coisas giraram. Na verdade seguem girando – complementou em um tom mais baixo de voz.

Sentimentalmente Janaína estava feliz. Estava segura. Não queria mudar isso. Em contraponto não sabia o que fazer. Precisava defender a sua rainha. Precisava se defender. Mexeu sua torre e continuou falando.

-Eu tenho tudo que eu preciso para ser feliz. E de certa forma me sinto estranha. Parece que me falta...
-Voar – completou Marcos enquanto encurralava o Bispo com seu cavalo.

Janaína levantou as sobrancelhas. Voar? Ele estava louco? Marcos, a pessoa mais centrada que ela conhecia falando em voar? Pensando em tirar os pés do chão? Não fazia o menor sentindo.

-Minha cara, é mais simples que um jogo de xadrez. De que adianta tu querer viver, se ultimamente estás grudada no chão.

Tinha lógica. Era a prisão que fazia com que Jana se sentisse daquela forma. Um filme de sua vida passou e ela pela primeira vez, ficou mais do que sem resposta: Perdeu também a ação.

-E será que não há como mudar isso agora? – Marcos disse, esperando a ação da adversária.
-Não sei – tremeu e errou a jogava. A rainha estava entregue.
-Quanto mais tarde não é pior?

Xeque-Mate. Não havia mais o que discutir.

Janaína pensou durante muito tempo sobre as palavras de Marcos. Decidiu que sua estava bem daquele jeito e que não queria mudar. Descobriu que amava o amor e sendo assim não podia se permitir amar. Não podia deixar levar-se pela inconseqüência. Tinha cansado de voar e por isso fixou-se em seu porto seguro. Talvez ele tivesse razão. Porém sua escolha foi tomada e sendo assim, ela nunca saberá.

9 comentários:

Bianca Romeiro disse...

noooooossa gabiii!
excelentee, sério, muito boom!! :D
beijos

raai. disse...

*-*


cara, um dia ainda escrevo como você :~

:D

;* Gabi \o/

Pelos caminhos da vida. disse...

Otimo amiga,vc esvreve e expressa muito bem.

bjs.

. disse...

ai que lindooo isso *-*
sabe, acho que a personagem janaina deveria se chamar mariáh ;s
AUHSUA
serioo, me sinto exatamente assim, e voce me fez ver a parte que eu não tinha visto até agora :')

a não vou mais abandonar não, pode deixar :')

Alessandra Castro disse...

Achei tão doce! :)

Anônimo disse...

Amo contos!
por aqui sempre pra te ler!
Beijos e boa semana!!!!

Ivy Rodrigues disse...

Excelente Gabi, parabéns.
Ficou ótimo, ficou lindo. ^^
Me identifiquei, não com a Janaina, mas com o Marcos em pontos. Já a Janaina... a descrição do 'errônio' que eu escolhi pra ser meu amor.
Beijos

Camila disse...

Gabi, que espetáculo de texto!
Você teceu super bem as palavras e adorei os trocadilhos!
"-Eu tenho tudo que eu preciso para ser feliz. E de certa forma me sinto estranha. Parece que me falta...
-Voar..."
Por vezes penso assim... depois desisto!

Beijo

Pelos caminhos da vida. disse...

Tem selinho la para vc Gabi.

bjs.