G,

A vida do ser humano é marcada pela quantidade ínfima de coincidências que nos cercam. Não vem ao caso as que nos uniram no passado e, tampouco as que vieram a nos separar, considerando tudo que já foi vivido desde então.

As coincidências me impressionam de forma geral. E elas me ensinam que não têm o costume de perdoar assuntos mal resolvidos.

E essas mesmas coincidências fez com que em uma mala direta tu re-obtivesse meu contato. E tentasse assim saber as boas novas. Sei que fui ríspida na resposta, mas não consigo não ser sincera. E, sinceramente eu achava que uma pessoa que agiu da forma ridícula como tu o fez, sem a mínima maturidade não merecia "guardar boas lembranças".

Mas, ao contrário do que parecem essas últimas frases, não estou nem um pouco afim de desenterrar uma coisa que pra mim já não faz mais diferença. E é justamente por isso que te mando essa carta.

Tu tinhas razão quando me disse que o melhor pra mim era ficar sem ti. Foi mesmo, e talvez por esse favor eu não te deva tanta rispidez. 2008 foi um ano de muito turbilhão, muito crescimento, muita vitória. Foi o ano em que eu posso dizer que me tornei mulher de verdade. Pronta pro que der e o que vier! E talvez se eu tivesse de mãos dadas contigo não conseguisse ter voado tão alto. Suposições apenas.

Sem mais delongas, não guardo mágoa nenhuma ti. De verdade. Talvez até possamos ser amigos. Não te digo isso com certeza, pois não sei o quão mudamos e o quanto faremos para que isso aconteça.

No mais, desejo que o novo ano sirva para que tu explores melhor o teu potencial e que assim teus sonhos se realizem.

Muita paz, descobri que essa é a melhor das virtudes.

Com carinho,

D.




















*Pessoas, volto só ano que vem. Um novo ano iluminado para todos nós.

Namorado

Ter ou não ter namorado,

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil.

Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.

Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.

Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

Artur da Távola

Nua

Ela se olha no espelho, nua. Se aproxima de seu reflexo envolta em uma toalha. E ali se enxerga, nua.
Vê sua testa lisa. Pensa no quão já enrrugou ao pensar na solução para mil problemas. E seu nariz, como é belo! Arrebitado, fino. Quanto ele serviu para que ela se entorpecesse na juventude.
Fazia muito tempo que havia largado o pó. Hoje em dia nem um fino queimava mais. Tomava um Prozac partido ao meio. Mas só vez que outra, quando a barra tava demais.
Aproximou-se ainda mais do espelho. Viu seus olhos. Todos diziam que era a parte mais atrente de seu rosto harmonioso. Outros diziam que olhos verdes não inspiravam confiança. Talvez eles estivessem certos.
Lembrou das vezes em que chorou. Logo ela, sempre tão rígida e em contraponto tão frágil. Depois de fazerem amor ele sempre a envolvia e dizia que ela era o seu cristal raro.
Um dia ele foi embora. E o olho dela ficou vermelho, e quando estava prestes a chorar sangue, decidiu enrigecer o coração. Pra sempre.
Sua boca doce derivou feito um vinagre proveniente de veneno. Decidiu que nunca mais acreditaria em ninguém.
Doze natais haviam se passado e ela estava ali, nua. Lembrou di que cada pedaço do seu reflexo representava. Decidiu remontar-se. Prendeu o cabelo em um coque levemente desfiado. Maquiou-se como que se cobre de porcelana. Colocou seus brincos dourados e o colar preferido. Vestiu o vestido de veludo vermelho, era o mais bonito. Subiu no salto e olhou ao seu redor. Era um império e era seu. Havia vencido.
Seu interior, no entanto estava vazio. Sentia-se sozinha. Lembrou do Prozac. Aquela cartela inteira que havia em sua cabeceira seria o suficiente.

Laços

Amanhã fará uma semana que eu pensei que faria mais um daqueles programas no qual tu te resume a ser anexo.

E o que é um programa “anexo”? É aquele que a gente é convidado ou deve comparecer por ser acompanhante do real convidado.

Pois bem, meu namorado era convidado de uma missa de formatura. Eu era o anexo. Saí do trabalho, corri pra casa dele, vestido, sapato de salto, maquiagem, cabelo preso e a abóbora se transforma.

Lá fomos nós. Pensei que seria mais um evento. Sem mais. Chego na UNISINOS e eis que ao longo do caminho para a capela, passamos em frente ao anfiteatro. Muitas pessoas arrumadas em torno de tal.


“já ta rolando formatura por aqui?”



Me perguntou meu namorado. Eu respondi negativamente. As formaturas da “Uni” só acontecem em janeiro.

O Fábio passou reto. Eu, como tenho o espírito de jornalista (além de ser estudante de tal), entrei. Eu estava com trajes adequados ninguém me perceberia como estranha.

Qual não é a minha surpresa ao encontrar conhecidos ali. Isso aguçou minha curiosidade. Lembrei em uma fração de segundos que haviam me falado que a formatura de 3º ano do meu antigo colégio. “Não, não deve ser...”

Era.

Que felicidade. Na verdade não pelos formandos. Não me recordava de grande parte deles, eram “os pirralhos do primeiro ano” quando eu me formei. Era assustador ver o quanto haviam evoluído, visto que o mesmo também se aplicaria a mim.

Estava ali, “adulta” vendo eles. Lembro que sentei na fileira frente para o público. Não era possível nem conversar senão sairia no DVD. Lembro do meu vestido preto que na verdade era corpete e saia visto que eu tiraria o longo na hora da festa.

Lembro da musica de turma.

“Não é fácil não,
Com os heróis não vai ter moleza não,
Essa gincana vai
ser pura emoção,
E a gente vai descendo até o chão”
(em ritmo de
“Tranqüilão”)




Lembro da minha musica de formatura

“If God is a DJ, life is a dance floor”



E, tudo isso me fez ficar ansiosa. Eu queria muito abraçar aos meus professores. Consegui ver os mais importantes.

Prof Milton (vulgo Mosquito) que foi nosso conselheiro do 3º ano e que foi mais que professor de biologia. Foi pai de ensinamentos pra vida.

E professora Ieda. Professora de Português. Não era a preferida da maioria como o Mosquito sempre foi. Agora para mim teve seu grau de importância. Foi ela que me encheu de notas baixas por saber que eu era capaz de mais. Hoje estou explorando meu dom e transformando-o em profissão graças a o esforço dela.

Ao abraçar o “Sor” desabei. Foi uma chuva de lembranças. O Fábio veio pra casa sem entender o porque eu chorava tanto. Não compreendia o que é chorar de felicidade. Talvez de fora seja difícil mesmo. Só quem estabelece laços entende.

Me embora...

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Rastro

Receber salário é sinônimo de pagar contas. Comigo obviamente não seria diferente. Esses dias eu estava na fila das lojas Renner, pronta para dar o meu mísero dinheiro de muitas horas de trabalho.

Uma mulher me chamou atenção. Loira, nem muito magra e nem ao contrário. Não foi beleza ou feiúra que me fizeram reparar nela. Foi a tal sensação de “esse rosto não me é estranho”.

Revirei as feições da faculdade, da balada, do estágio e não localizei. Tinha certeza, porém, que conhecia. Remeti a imaginação até a infância. Lá no princípio também não encontrei. Vagava lá pelos meus 12 anos quando me veio a luz.

BRUNA!

Como eu não tinha identificado antes? Era ela! A Bruna. Éramos inseparáveis. Um trio! Todo o final de semana uma na casa da outra fazendo festinhas, comendo muita pizza, muito chocolate. Olhando filmes, falando bobagem.

Éramos um trio muito unido. Não tinha como passar por uma sem levar as outras duas. Éramos inseparáveis.

Enquanto a fila andava, lembrava de bons momentos. Não recordava o porque havíamos nos separado. O fato é que estávamos ali. Separadas por duas pessoas. Não sei se me viu. E se viu, será que reconheceu? Acho que não.

Como é que pode as pessoas trilharem juntas um período da vida e depois mal de identificarem em meio a multidão. E o pior é que isso acontece com mais freqüência que imaginamos.

Pensei em chamar, gritar Bruna! Dizer quem eu era. Ela lembraria!Quem sabe até tomaríamos um café. A vez dela chegou, recuei. Pagou os carnês e foi embora. Levando junto rastros de uma época feliz da minha vida.

MemÊ

1. O Cantor/Cantora/Banda escolhido foi O Teatro Mágico
2. Responder às questões (com títulos das músicas):

2.1. És Homem ou Mulher? Menina
2.2. Descreve-te: Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou
2.3. O que as pessoas acham de ti? Simples Como Qualquer Palavra
2.4. Como descreves o teu último relacionamento? A Bailarina E O Soldado De Chumbo
2.5. Descreve o estado atual da tua relação. Uma Parte Que Não Tinha
2.6. Onde querias estar agora? Perto de Você
2.7. O que pensas a respeito do amor? Brilha Onde Estiver
2.8. Como é a tua vida? Amadurecência
2.9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo? Cuida de Mim
2.10.Escreve uma frase sábia. Posso ser inocente, debochado e irreverente... Afinal, sou o riso dessa gente

Peguei do Blog da Mascotezinha e repasso a quem quiser.

''Se Deus é por nós.... quem será contra nós?''(Romanos 8.31)

"Tudo posso naquele que me fortalece" (Filipenses 4.13)

Fala por si, dispensa comentários.

Não sei o motivo de estar postando isso aqui. Mas aí estão expostos os meus lemas de vida.

E já me ajudou absurdamente.

A festa

Eles se conheciam de uma data não tão longa, porém, intensa. Grandes amigos. Daquela noite tornaram-se cúmplices. Tudo pareceu diferente quando ele a viu girar pelo salão com sua saia de chita e sua rasteira colorida.

“Me abraça, me aperta
Me prende em tuas pernas
Me prende, me força, me roda, me encanta
Me enfeita num beijo”

Aquilo soou como uma ordem. Não era um absurdo. Ambos livres e independentes. Só que até então era aparentemente impensado. Mas, só aparentemente, visto que mesmo antes de tal festa eles se desejavam de forma intensa.
Primeiro ele a abraçou e a apertou forte. Olhou fundo em seus olhos. Ela correspondeu e ele pela primeira vez se sentiu livre para beijá-la.

“Desde a primeira vez que eu te vi sabia que tu era a mulher mais linda do ambiente”.

Que beijo, que gingado, que química. Levou-a para casa. Encantou-se pelo seu sorriso. Hipnotizou-se em seus olhos. E abraçados de forma pueril juraram nunca deixar que aquela noite findasse.

A menina-mulher da saia de chita adormeceu como um anjo. Enquanto ele alisava seu braço de forma suave, beijava seu ombro e pensava que mesmo sem tocá-la estava convencido de que ela era mulher da sua vida.

Dormiu era quase de manhã. Ao acordar percebeu que nada passara de um sonho bom.

Quando se perde

Esse fato que irei contar hoje é extremamente passado. Deveria ter comentado lá no início de outubro. Porém, fui me distanciando, escrevendo outras coisas. Aconteceu que tal relato acabou ficando pra trás.

Então vamos logo ao ponto. O Brasil é grande. O Rio Grande do Sul nem tanto. Por isso, como sempre morei na Grande Porto Alegre, tive um acesso fácil a lugares como a Serra gaúcha, por exemplo.

Tem tanta gente que “baba” pela cidade de Gramado. Nunca achei nada de mais. Alias, lembro-me que não foi uma nem duas as vezes que achei um saco meu pai me acordar no domingo com um chimarrão de baixo do braço me chamando para aproveitar o sol em um passeio diferente.

E lá nós íamos para Gramado. Ta, é bonito, é legal. Mas eu queria ficar dormindo. Custava entender isso?

A cena muda. E eu estou morando no outro lado do País no ano de 2005. O ápice da minha felicidade foi ir passar as férias no sul. Lembro bem da minha emoção ao ir a Gramado.

Que cidade! Quão linda era! Como eu nunca tinha visto antes. Ia muito além de comprar chocolates! As ruas tinham uma harmonia ímpar. Passei a noite inteira deslumbrada com o que via.

E tudo isso por quê? Porque pela primeira vez eu não tinha aquele passeio quando eu queria. É a velha questão da valorização que muito só aprendem no amor. Porém, se tentássemos nos corrigir antes de precisar perder quem se gosta, provavelmente nos pouparíamos de muito sofrimento.

Gramado encheu de beleza também o meu coração. E não só isso, me ensinou uma grande lição. Que sigo até hoje.

Em xeque [final]


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Marcos sempre tão quieto, sempre tão analítico. E Janaína sempre tão dinâmica e espontânea. Os fatos não mudaram Marcos. Mas mudaram Janaína, fazendo com que ela criasse um véu. E gelasse.

O silêncio precisava ser quebrado embora ela rezasse para todos os santos que isso não acontecesse.

-Tá tudo bem contigo – perguntou Marcos, escondendo sua ansiedade atrás de uma jogada calma com a torre.

A calma. Ah, a calma! Virtude que Marcos esbanjava e Janaína tinha déficit. A hora da verdade havia chego e de nada adiantou tentar evitar. Era difícil explicar aquilo que nem mesmo a ela fazia sentido.

-Ótimo – disse ela de forma ambígua, visto que, havia comido o cavalo – Por que não estaria? – retrucou com seu sistema autodefensivo ligado.

Janaína era falante ao natural. Ironicamente, Marcos sabia o quão difícil seria fazer com que ela falasse dessa vez. Ele conhecia Janaína. Talvez tanto quanto ela própria. Desconhecia, porém, o mais importante: o pavor que ela estava de ter que desenterrar um passado que decidiu esquecer sem razão aparente ou lógica.

-Porque não é isso que dizem os teus olhos.

O olhar. Ah, o olhar! Desde antes de criarem intimidade, Marcos já se rendia àquele olhar. Doce sem ser tolo. Amável sem ser ingênuo. Talvez, do saudosismo cabível naquilo que se viveu somente em pensamento, o elemento que mais fazia falta era o olhar. Como poderia ter mudado tanto?

De repente, entre um peão e uma oportunidade perdida de comer o bispo, uma crise catártica tomou conta de Janaína. E ela desabou.

-Não. Não ta tudo bem.
-Mas..
-Eu acabei de dizer que tava tudo bem, mas não ta.
Marcos colocou Janaína em xeque.
-Desenvolva.
-Não sei explicar. Era pra estar tudo certo no lugar. Era pra estar feliz. E me sinto vazia. Acho que mudei o meu estilo de vida.
-Não é isso que você deve questionar em si agora.
-E o que é então – Janaína perguntou enquanto escondia sua rainha.
-A questão, minha cara – Parou, pensou no jogo, movimentou lentamente uma peça – Não é ter mudado o estilo, mas sim o por que de tal ato.

Janaína não estava só em xeque. Era também choque. Não sabia o que dizer. Não tinha o que dizer, embora houvesse muito a ser dito.

-Foi tudo tão de repente. Não tenho nem como te explicar. De uma hora pra outra, veio outro alguém.

A verdade é que Janaína precisava sentir-se segura. Sua carente alma ainda adolescente aspirava por insanidade. Foi algo acontecido de momento e o momento se prolongou.

-O que mais me intriga não é nem a rapidez do fato. Mas o por que tu não me contou.

Ela precisava pensar. Na verdade, o que ela precisava mesmo era respirar. Mas não podia. Estava em meio a uma partida de xadrez.

-As coisas giraram. Na verdade seguem girando – complementou em um tom mais baixo de voz.

Sentimentalmente Janaína estava feliz. Estava segura. Não queria mudar isso. Em contraponto não sabia o que fazer. Precisava defender a sua rainha. Precisava se defender. Mexeu sua torre e continuou falando.

-Eu tenho tudo que eu preciso para ser feliz. E de certa forma me sinto estranha. Parece que me falta...
-Voar – completou Marcos enquanto encurralava o Bispo com seu cavalo.

Janaína levantou as sobrancelhas. Voar? Ele estava louco? Marcos, a pessoa mais centrada que ela conhecia falando em voar? Pensando em tirar os pés do chão? Não fazia o menor sentindo.

-Minha cara, é mais simples que um jogo de xadrez. De que adianta tu querer viver, se ultimamente estás grudada no chão.

Tinha lógica. Era a prisão que fazia com que Jana se sentisse daquela forma. Um filme de sua vida passou e ela pela primeira vez, ficou mais do que sem resposta: Perdeu também a ação.

-E será que não há como mudar isso agora? – Marcos disse, esperando a ação da adversária.
-Não sei – tremeu e errou a jogava. A rainha estava entregue.
-Quanto mais tarde não é pior?

Xeque-Mate. Não havia mais o que discutir.

Janaína pensou durante muito tempo sobre as palavras de Marcos. Decidiu que sua estava bem daquele jeito e que não queria mudar. Descobriu que amava o amor e sendo assim não podia se permitir amar. Não podia deixar levar-se pela inconseqüência. Tinha cansado de voar e por isso fixou-se em seu porto seguro. Talvez ele tivesse razão. Porém sua escolha foi tomada e sendo assim, ela nunca saberá.

Síndrome de borboleta

Nunca quis ter irmãos. Sempre disse que não queria fedelhos mexendo nos meus livros. Me assustava a idéia de dividir meus brinquedos. Dezenove anos depois começo a mudar de idéia. Chega um momento em que as asas começam a crescer. Voar é uma necessidade. Aparece a vontade de ser livre.

Daí tem o contra-argumento. Mas dentro de alguns limites tu é livre. E vem também a réplica. Sou, sou sim, mas chega um momento em que os limites devem ser aumentados.

Liberdade demais gera libertinagem. Liberdade de menos gera infelicidade.

E talvez, isso explique o fato de eu estar me sentindo como estou nos últimos dias (todos que convivem comigo perceberam). Tenho absolutamente tudo que faria alguém feliz. Mas não tenho permissão para bater minhas asas fora de casa.

Utilizando uma hipérbole me sinto como a minha cadelinha. Sempre dentro de casa. Só saindo no colo de um da casa e para passeios curtos. Correr? Só no quintal de casa.

Não quero pensar que somente terei limites expandidos quando eu “me sustentar sozinha”. É triste pensar assim. Preferia pensar que um dia serei escutada. Mas, não sei se há como.

Ah...

“de que adianta viver se não podes voar?” (frase de uma das pessoas mais sensatas que eu conheço).

Último post do ano.

Impagável.


Não é um título importante para alguns. Porém, destes, todos que falaram comigo hoje estavam, de uma forma ou outra, mordidos.

Mas quer saber? Pouco me importa. Estou pouco me lixando com comparações com o arqui-rival. Não me interessa nada disso! Mordam-se se quiserem, desdenhem se quiser. Sejam campeões se forem capazes.

O ano encerrou com um saldo positivo. Meu time disputou 5 campeonatos ao longo de 2008. Destes, ganhou 3. E pra mim, é isso que importa. Se quiseres debater comigo, falará sozinho. Pois pra mim nada me importa além do Sport Clube Internacional.

Saiu na imprensa:

“E o Inter conseguiu. Faltando 123 dias para completar 100 anos de vida, ergueu a única taça que faltava entre as possíveis de serem conquistadas por um clube de futebol. Assim, desde ontem, o Inter é campeão de tudo.”


“o teu presente diz tudo”.

E baseado nisso, me resta somente, finalizar.

Provavelmente meu último post do ano sobre futebol

Ps.: Tem conto aí em baixo. E o final dele, você decide!

Em xeque

Janaína nunca havia tido interesse por jogo de xadrez. Não sabia jogar. Nunca se dispôs a aprender. Sendo assim, sempre dizia que não estava afim de uma partida.

Naquele dia, porém, o destino trouxe a vontade juntamente com os passos sempre sérios e comedidos dele.

Janaína não sabia jogar xadrez. Mas sabia desafiar Marcos. E gostava disso. Ela sabia que, no fundo, ele também sentia uma ponta de prazer ao ser desafiado, ainda que fosse somente para rebater e gerar um debate sobre o assunto.

Janaína sabia intrigar Marcos em seus desafios. Marcos, por sua vez, gostava de debater com Janaína. E era bom nisso, não perdia uma.

Janaína contra-argumentava com Marcos tão bem quanto jogava xadrez. Isso o agradava. E a ela também. Pensava que Marcos de alguma forma inexplicável a fazia crescer. Janaína era sedenta por conhecimento. Crescimento era uma necessidade.

O jogo começou.

- Já vou avisando que não sei jogar – avisou Janaína com sua mania torpe de sempre andar na defensiva – Marcos, assentiu.

O silêncio dava o toque ao ambiente. Para eles, era como se cada jogada representasse um esclarecimento que meses antes fora calado. O destino não esquece dos mal resolvidos e por isso colocou Marcos e Janaína ali, novamente, frente-a-frente. Como da primeira vez. O silencio tratou de condená-los pelos pecados cometidos.

Ambos erraram. Ele esperou demais, deixou que seus limites e fantasmas passados o impedissem de tentar. Ela, com uma carência absurda e uma vontade de ser amada não soube esperar por ele. E foi amar.

E agora ambos estavam ali. Frente-a-frente, mediados pelas jogadas de um tabuleiro. Com coisas a dizer, doía ficar calado mais uma vez. E aquela era a última chance de falar algo.

[Continua...Ou não.]

1983

Não, não citarei o excelente livro de George Orwell e sua perspectiva sobre o ano de 1983. Felizmente, Orwell errou. Os acontecimentos foram outros. Para o mundo, o que aconteceu foi mais ou menos isso.

Estréia do programa Vídeo Show na Rede Globo.
Adolfo Bloch funda a Rede Manchete de Televisão.
Fundação da CUT e CONCLAT, no Brasil
Salvador Dalí conclui o seu último quadro, The Swallow's Tail


Para a música, os nascimentos da “santa” Sandy e da “endemoniada” Amy Winehouse. O mundo ganhava Kelly Key (oi?) e perdia Clara Nunes.

O jogador colorado Gustavo Nery nasceu nesse ano, assim como a pequena grande Daiane dos Santos. Perdemos Garrincha em 1983.

Ah, é, já ia me esquecendo. Em 1983 o Grêmio foi cmpoae od nudmo.. O Q? cmpoae do mundo, ã? Ta, ta, brincadeiras a parte, esse foi o ano do campeonato Toyota de futebol que deu o título mundial a um tal de Grêmio em cima de um time misto do Hamburgo.

Isso significa que para os gremistas 1983 foi de festa, para os sambistas foi de choro, e para a tv foi de novidades. Pra mim esse ano foi o início do projeto de vida.

Em 2 de dezembro de 1983 minhas estruturas começaram a ser construídas.

E não é pq são meus amados e maravilhosos pais, mas, vamos combinar que é de orgulhar que me meio há tanta banalização do casamento, encontremos um que supere de fato alegri e tristeza, saúde e doença, riqueza e pobreza e dure 25 anos.

Amo-os e me orgulho tanto, que palavra nenhuma descreve.

Chuva de recordações


Hoje pela manhã e acordei com um tempo extremamente abafado e quente. Além disso, também estava chovendo. Lembrei-me de Itaituba. Ah! A cidade Pepita que me abrigou durante mais de um ano e menos que dois.


Lembro de como eu não queria ir. Do quão difícil foi se relacionar. Lembro do rosto de cada um que me ignorou, de cada um que julgou sem conhecer. Não esqueço da primeira dor de amor, da primeira dúvida.


Em contraponto não posso ignorar o fato da simplicidade da cidade. Lá que eu conheci além das pessoas mais podres, também as mais leais. Lá, onde eu sofri demais, e em contraponto fui muito feliz.


Nunca vou esquecer o banho de rio, do sorvete de murici, da primeira aula que eu matei na vida, da dança junina. Do poste que eu analisei, do chiclete que colei no muro. Da festa surpresa em plena segunda-feira e de um feliz aniversário às 6 da manhã.


Nunca vou esquecer a fogueira, o dirigir sem habilitação, dos all star sujo, do violão, da violada, do filme água com açúcar no domingo de noite, das 70 mensagens em uma noite. Impossível será apagar da mente o porre que me faz ainda hoje enojar o cheiro de vodka.


Gente ruim existe em qualquer lugar. Gente amiga e que se doa com pureza eu já não garanto. E agora o sol bate bem no meu olho, seca a saudade de todos eles. Assim como era em Itaituba. Ah, a cidade Pepita que me abrigou durante mais de um ano e menos de dois.



Foto tirada por mim em Agosto de 2005 na praia de PAraná-mirim, Itaituba/PA